Busque por temas

Em alta

Por que estão falando tanto de… quit-tok

Por que estão falando tanto de… quit-tok

Muito distante do quiet quitting, a prática de publicar vídeos que mostram a própria demissão nas redes sociais ganhou popularidade entre a fatia mais jovem da atual força de trabalho. O quit-tok, trend que já soma muitos adeptos no TikTok, mostra como estamos diante de um novo perfil profissional – e um novo desafio para o RH.

Dicas para trabalhar com a nova geração por Ana Paula Franzoti, da Unilever

Diretora de desenvolvimento e cultura organizacional, a executiva também é mentora no Movimento Jovens do Brasil e adora se conectar com quem está chegando ao mercado de trabalho

Bruno Capelas
6 de março de 2023
Como lidar com jovens talentos
Leia emminutos
Voltar ao topo

Desenvolver jovens talentos é algo que tem importância especial para Ana Paula Franzoti, diretora de desenvolvimento e cultura organizacional da Unilever. Também, pudera: desde os 15 anos de idade, ela trabalha com RH, tendo passado por empresas como Ford e Coca-Cola e desempenhado posições em vários estados brasileiros, como Bahia, Espírito Santo, Pernambuco e São Paulo.

Mentora do Movimento Jovens do Brasil e uma das responsáveis por liderar programas de estágio e trainee dentro da multinacional, ela compartilhou com a gente o seu borogodó sobre como lidar com jovens talentos no dia a dia, sejam eles estagiários, trainees ou analistas júnior que acabaram de chegar ao mercado de trabalho. 

É algo que precisa estar na pauta das organizações do país inteiro, independentemente de seu tamanho: “hoje, cerca de 25% da população brasileira tem entre 15 e 29 anos, jovens que estão se tornando adultos economicamente ativos – e que tem um mundo diferente de quem já está trabalhando, só por ser de uma geração diferente”, diz Ana Paula.

1. Preste atenção no currículo oculto

“É importante descobrir o currículo oculto do talento – um conceito que aprendi com a Daniele Jesus, que trabalhou comigo na Unilever. Às vezes, olhamos bastante para faculdade ou idiomas, e o currículo do jovem pode ser mais resumido. Mas se aquele jovem já teve de lidar da gestão de uma casa ou dos irmãos enquanto os pais trabalhavam, ele sabe lidar mais com criatividade e gestão de situações difíceis do que qualquer pessoa que fez um MBA. É o currículo oculto.” 

2. Mais que desafiar, mostre o potencial do jovem

“Minha geração era focada em performance e desempenho. As pessoas ‘batiam’ para você performar, como se a única forma de ter performance fosse sob pressão. Hoje em dia, vejo que o jovem não consegue enxergar o potencial que tem ou não se acha merecedor das oportunidades. Mais do que pressionar, é preciso fazer acreditar que ele pode entregar uma meta. Tem que desafiar, mas não pode largar a mão. Ajude o jovem a atravessar a ponte, de mãos dadas com ele, entendendo o problema. Vão ter jovens que vão sentir medo, outros que vão preferir lidar com situações sem você por perto. O papel do líder é encorajar o jovem, ainda mais porque hoje há dados que mostram que os níveis de ansiedade na juventude são alarmantes. Se a liderança faz esse jovem ficar pior, começa um ciclo vicioso.” 

O papel do líder é encorajar o jovem, ainda mais porque hoje há dados que mostram que os níveis de ansiedade na juventude são alarmantes.

3. Busque tempo para auxiliar o talento

“Abra espaço na sua agenda para se aproximar e escutar ativamente os jovens. Eles são diferentes, só pela geração. É importante escutar o mundo dele, entender as dificuldades. Ouvir o jovem ajuda a criar um ambiente de inclusão, que seja seguro psicologicamente para ele se desenvolver. Além disso, ouvir pode ser bom não só para o jovem talento, mas para o próprio desenvolvimento: isso cria repertório de percepção de mundo para quem escuta. Sei que hoje há um cenário em que todo mundo se sente estrangulado, com muitas tarefas. É fácil dizer que não há tempo para treinar outras pessoas, especialmente quem está começando. Mas o papel do líder não é só olhar tarefas, senão ele não está sendo líder, no máximo está fazendo uma boa gestão, mas não está desenvolvendo as pessoas ao redor dele. O diálogo pode ser feito de inúmeras formas. Se todo dia você precisa almoçar e parar para um café, por que não usar esse tempo com o jovem talento? É uma forma de inserir a gestão de pessoas dentro desse monte de músculos que todo mundo (e especialmente, os líderes), precisam exercitar. É uma forma de gestão mais ágil, que dá visibilidade para as pessoas, e pode ajudar bastante.” 

4. Use a empatia do jeito certo

“Seja você o líder direto do jovem ou alguém que trabalha junto com ele, é importante pensar que tipo de figura você quer ser para ele. Aqui na Unilever, falamos muito do papel dos tutores, dos mentores. Quando for lidar com o jovem, lembre-se de quem te ensinou a trabalhar. Afinal de contas, todos nós aprendemos a trabalhar com outras pessoas – e em algum momento, teve alguém que te salvou no trabalho. Quem você quer ser para o jovem? Você quer ser alguém que é uma lembrança boa ou o carrasco, que vai atrapalhar a vida dele?”

Quando for lidar com o jovem, lembre-se de quem te ensinou a trabalhar. Afinal de contas, todos nós aprendemos a trabalhar com outras pessoas

5. Entenda as diferenças e busque aprender

“O mundo do jovem é diferente do de quem é mais velho. E isso abrange muitas coisas que vão além do trabalho: do jeito de vestir ou de usar o cabelo até a comunicação por emojis, tem um monte de questões. Eu tenho um time mais jovem que eu, muitos deles teriam idade para ser meus filhos. Mas existe um ganho enorme nessa busca de entender as diferença: eu aprendo demais com eles. Muita gente fala de mentoria reversa, mas eu digo que é escuta reversa. Você não pode querer que o jovem faça tudo do jeito que você acha, mas pode se atualizar muito com a forma como eles fazem as coisas hoje. As diferenças são naturais: minha geração questionava a geração do meu pai, faz parte da evolução. Felizmente, hoje vivemos numa sociedade menos autoritária, que permite praticar a inclusão efetiva a partir das diferenças. A organização ou líder que não fizer isso pode acabar sofrendo, vendo o jovem se movimentar e até deixar a empresa. Cabe a nós garantir um ambiente inclusivo.”

Bruno Capelas é jornalista. Foi repórter e editor de tecnologia do Estadão e líder de comunicação da firma de venture capital Canary. Também escreveu o livro 'Raios e Trovões – A História do Fenômeno Castelo Rá-Tim-Bum'.