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Carreira internacional pela experiência de 3 executivas

Anna Moreno Damico, da Boston Consulting Group; Marcela Niemeyer, da Thermo Fisher Scientific; e Brenda Wilbert, da British American Tobacco, compartilham os desafios de trabalhar em outro país

Lidiane Faria
24 de outubro de 2022
Carreira internacional: 3 executivas expatriadas falam sobre a experiência
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A expatriação de mulheres executivas é crescente. De acordo com a consultoria Hayman-Woodward, houve um aumento de mais de 30% de mulheres expatriadas entre 2018 e 2020. São mulheres entre 37 e 47 anos, que estão em busca de novas perspectivas, experiências culturais e crescimento de carreira. As motivações para este movimento são inúmeras, mas os desafios também são recebidos na mesma proporção.

Para contar suas experiências pessoais e profissionais, convidamos as executivas Anna Moreno Damico, Alumni Strategy and Engagement, Global Senior Manager na Boston Consulting Group (BCG); Marcela Niemeyer, HR Director, Global HR, Customer & Commercial Excellence and Quality Assurance & Regulatory Affairs na Thermo Fisher Scientific; e Brenda Wilbert – Regional HR & Inclusion Director, Americas & Sub-Saharan Africa na British American Tobacco.

-> Brenda Wilbert pergunta para Anna Moreno Damico:

Carreira internacional: 3 executivas expatriadas falam sobre a experiência

Você sempre quis ter uma experiência internacional ou simplesmente aconteceu?

Eu sempre tive muito desejo e curiosidade em morar fora do Brasil. Sou filha de atleta e joguei voleibol profissionalmente por muitos anos. Meus irmãos mais velhos (também no vôlei) faziam faculdade nos EUA com bolsa integral de estudos para jogar. Era um caminho natural para mim, alimentei o sonho de percorrer o mesmo caminho que eles por muitos anos. A vida não me levou para o exterior pelo esporte, então acredito que eu tenha guardado esse desejo e transportado essa ambição para minha carreira corporativa, que começou assim que aposentei das quadras. 

Já comecei estagiando em multinacional, com exposição frequente a times internacionais, projetos entre países, etc. Me encantei pelo dinamismo e aprendizado rápido, fui construindo pontes relevantes com gestores na matriz. Me candidatei depois de alguns anos para uma vaga em NY e fui selecionada. Minha primeira expatriação aconteceu em 2013. Enfrentei muitos desafios, mas aprendi muito também. Foi uma experiência transformadora, que me abriu a cabeça e os horizontes. Senti que estava no lugar certo e dei tudo de mim para fazer dar certo.

Anos depois, já em outra empresa, num cargo de gestão no Brasil, tive novamente a oportunidade de assumir um cargo internacional e não pensei duas vezes, principalmente porque meu marido estava sendo transferido para os EUA também. Fui muito encorajada e apoiada pela liderança da empresa no Brasil, o que fez toda a diferença. Essa segunda experiência, já muito mais sólida, organizada e experiente, se provou das melhores decisões da minha vida. Adoro trabalhar com outros países, adoro morar onde moro, conhecer outras culturas e me desafiar. A saudade do Brasil é grande, mas eu realizei na minha carreira corporativa sonhos que alimentava desde a adolescência. Hoje, pra mim, a conta ‘fecha’ pelo nível de desafios que sou exposta e exigida, enquanto posso proporcionar qualidade de vida para minha família.

-> Anna Moreno Damico pergunta para Marcela Niemeyer:

Carreira internacional: 3 executivas expatriadas falam sobre a experiência

Quais foram os momentos mais desafiadores da sua carreira, como expatriada, e como você superou esses obstáculos?

Quando me mudei para os EUA, assumi um cargo de Diretora Global de RH (HRBP), e os maiores desafios, pra mim, estiveram conectados em conciliar todos os aspectos da minha vida pessoal e carreira em um momento que estava buscando me provar. No trabalho tinha uma chefe nova, time novo, clientes novos, desafio distinto e era como se estivesse aprendendo tudo do zero, apesar de estar na organização há 4 anos. Na parte pessoal, achar apartamento, fazer toda a mudança, encontrar médicos, fazer amizades e me familiarizar com o local e como seria a minha vida.

Essa semana estava conversando com um executivo que admiro e ele falou que uma das minhas maiores qualidades é ser “fearless”. Isso é algo que levo comigo até hoje. Em 2017, topei o desafio de me mudar. Fiz tudo muito rápido, e se pudesse faria tudo de novo. Não tenho medo.

A adaptação pode ser desafiadora por uma questão de tempo; eu queria estar adaptada no primeiro mês e levou alguns meses. Sempre temos lições aprendidas e hoje entendo que tudo tem seu tempo e que toda mudança exige da gente e vamos nos adaptando. Como dizemos por aqui: “riding the bike while pumping the tires”.

Se puder dar uma dica, é: não espere até que esteja preparado para a mudança. Assuma o desafio e os riscos. Vale a pena. E foi com esse mindset e com as conexões que fiz com as pessoas que pude superar os desafios.

-> Marcela Niemeyer pergunta para Brenda Wilbert:

Carreira internacional: 3 executivas expatriadas falam sobre a experiência

Qual foi o maior desafio que você teve quando mudou de país e quem foi essencial na superação desse momento?

Levei um tempo para entender que a verdadeira mudança tinha que acontecer dentro de mim. Quando mudei de país, fiquei muito focada em entender sobre o trabalho, como seria o relacionamento com meu chefe, com meus novos colegas. Qual seria minha rotina no escritório e com minhas novas responsabilidades. 

Além do trabalho, minha atenção ficou voltada para as questões práticas que envolveram a mudança, como achar casa, papelada para ter o visto de residência, qual era o melhor trajeto para chegar no trabalho, entender o modelo de impostos – fazer imposto de renda seria um desafio! Nessa época ainda não tinha filhos, então tive uma preocupação a menos em relação à escola, adaptação das crianças no colégio, idioma, etc.

Todas as questões que citei são super importantes porque elas são o alicerce da mudança. Porém, na minha experiência, a mudança mais desafiadora é a que tem que acontecer dentro de você. Você faz o movimento internacional esperando aprimoramento profissional, conhecimento de uma nova cultura e experiência no exterior. Mas o grande aprendizado é o autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Entrar em contato com as suas inseguranças, com o medo de falhar.

Aprender a cair e a levantar. Entender que pedir ajuda faz parte. Ter a tranquilidade para desaprender coisas que funcionavam no seu país, mas já não te ajudam mais nesse novo ambiente. Entender que o que te trouxe até aqui, pode não ser suficiente para te ajudar a ser bem sucedido. A mudança de país te força a enxergar tudo isso.

Nesse processo, quem me ajudou foram pessoas que estavam em situação parecida com a minha (estrangeiros ou brasileiros). Até então, eram desconhecidos que com o passar do tempo se transformaram em amigos. Existe uma tendência natural em fazer amizade com pessoas que estão na mesma situação que você. E é impressionante como brota um sentimento de colaboração e cooperação entre essas pessoas. Por isso é importante pedir ajuda, falar. Criar um grupo de apoio e novas referências são essenciais para adaptação à nova cultura.

Lidiane Faria é graduada em Relações Públicas e pós-graduada em Jornalismo. Tem experiência em startups de tecnologia, consultorias e emissoras de TV e adora ouvir pessoas incríveis.