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Por que estão falando tanto de… quit-tok

Por que estão falando tanto de… quit-tok

Muito distante do quiet quitting, a prática de publicar vídeos que mostram a própria demissão nas redes sociais ganhou popularidade entre a fatia mais jovem da atual força de trabalho. O quit-tok, trend que já soma muitos adeptos no TikTok, mostra como estamos diante de um novo perfil profissional – e um novo desafio para o RH.

As lições de Lázaro Ramos para ser um líder melhor, diverso e sem burnout

Em evento especial da Caju, ator, diretor, apresentador e empresário deu conselhos baseados em sua trajetória, mas que podem muito bem servir ao RH

Bruno Capelas
16 de maio de 2023
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Para quem tem uma carreira corporativa, transformar-se de líder em liderado é uma tarefa difícil. Agora imagine como essa mudança funciona para quem tem uma profissão em que a perspectiva de comandar as pessoas ao redor é mais difusa, como é o caso de atores e atrizes. Pois bem: aí você terá noção do tamanho da encrenca que apareceu na frente do ator Lázaro Ramos, que hoje também é diretor, apresentador e empresário. 

“Eu sempre me vi como liderado, só queria ser ator e ganhar salário para pagar meu aluguel. Não queria ser líder de nada, mas ao perceber potências gigantescas ao meu lado, ficava tentando mostrar para as pessoas o que eu via”, contou Lázaro em um evento muito especial realizado no final de abril em São Paulo: o Café com Caju

Para uma plateia presencial e também online, ele dividiu um pouco de sua história e as lições que aprendeu, ao longo do tempo, para ser um líder diverso e melhor. Lázaro também deu conselhos para quem quiser evitar o burnout – experiência que ele próprio viveu recentemente, após assumir compromissos como o de ser showrunner da Amazon no Brasil, dando vida a novas produções do serviço de streaming da gigante americana por aqui. Vamos às dicas? 

1. Aprender a conviver com as diferenças

“Minha história começa num lugar chamado Ilha do Paty, a uns setenta quilômetros de Salvador. A minha trajetória se baseia na falta do acesso e da herança financeira, mas ela é construída no valor da palavra. Meus avós se irritavam quando a gente perguntava uma coisa duas vezes, porque a palavra deles valia muito. E eu aprendi muito na convivência, na coletividade das diferenças. A ilha tinha umas 200 pessoas, que parecia ter pessoas demais, tanta era a proximidade, o fuxico, a fofoca. Você deixava a porta aberta e alguém já ia entrando. Era também uma convivência harmônica em religiosidade: você tinha a Assembleia de Deus, a igreja de São Roque e um terreiro de candomblé, mas na hora do almoço todo mundo conversava e se dava bem.” 

2. Ser líder é dar espaço às potências

“Eu sempre me vi como liderado, só queria ser ator e ganhar salário para pagar meu aluguel. Não queria ser líder de nada, mas ao perceber potências gigantescas ao meu lado, ficava tentando mostrar para as pessoas o que eu via. Foi assim com o Ó Paí Ó, que foi peça de teatro, filme e televisão. E também foi assim que em 2017, na Globo, eu resolvi fazer um dossiê mostrando o que era a vida de uma pessoa negra na emissora. Era um documento de 11 páginas, muito intuitivo, falando de coisas como plano de carreira para técnicos, a forma como a pele negra era mal iluminada e muitas potências que a gente estava jogando fora. Um exemplo? Por que a gente nunca fez uma série contando a vida da Elza Soares? As pessoas acharam bom e viram que ali tinha conhecimento, começaram a me perguntar coisas. Ali, eu não sabia que estava liderando, mas eu estava propondo, mostrando potências. Pedi para ir estudar nos EUA e voltei descobrindo que eu tinha virado um líder. Hoje na Amazon eu sou showrunner, mas gosto de dizer que sou animador de torcida: não tenho os saberes, mas tenho gana para estudar, paciência para escutar e paixão para estimular talentos. É assim que eu gosto de exercer a liderança.”

3. Misturar respeito e personalidade

“Pra gente, qualquer que seja a profissão, é essencial estudar muito o que a gente vai fazer, conhecer a história de quem veio antes, e, ao mesmo tempo, não abrir mão de ter uma assinatura própria. Eu aprendi essa lição com as J. Sisters, duas manicures brasileiras que foram pros EUA e hoje têm até um salão de beleza na Quinta Avenida, em Nova York. Perguntei o que elas tinham de diferente e elas só responderam: “A gente só faz as coisas do nosso jeito”. Pode parecer simples, mas elas sabiam qual era a identidade delas. Isso é muito importante.” 

4. Conheça quem está com você (e você mesmo!)

“Meu jeito de ser líder é convivendo com as pessoas. Não saio vomitando regra, eu vou convivendo. Muitas vezes, notei que o que mais faz a diferença é o dia da pessoa. E aí decidi que minhas reuniões começam sem falar do assunto: elas começam falando de outras coisas, para a gente se conectar um pouco. É o meu jeito. Ao mesmo tempo, eu também aprendi que sou afetado peo meu dia. Às vezes não quero estar com uma pessoa, ela pode ser chata, mas vou lá num canto, xingo e volto com a cara cínica praquela reunião. A gente conhecer os outros e se conhecer ajuda no nosso trabalho.”

5. Jogar como time

“Dentro do meu campo profissional, tem diretor que fala que não gosta de ator que pensa. Comigo é o contrário: eu gosto de iniciativa, de provocação. Ao mesmo tempo, também gosto de pessoas que têm a capacidade de entender que uma ideia é prioritária e que vamos ter que trabalhar juntos por ela. Já vivi com pessoas que não tiveram sua ideia aceita e começam trabalhar contra. Não dá: na hora que se acha uma meta, é preciso jogar como um time. Por outro lado, também sei que eu tenho dificuldade em dizer não. Tive que transferir pessoas de área para outra e, para pedir desculpas, mandei flor, fiz comida, dei presente… tudo porque eu não sei dizer não. Com o tempo, sabendo disso e dessa minha limitação, decidi me cercar de pessoas que sabem dizer não. Aos poucos a gente vai entendendo.” 

6. Como evitar o burnout

“Quando eu cheguei na Amazon, eu queria dar conta de tudo. Cheguei a responder emails no domingo à meia-noite. Foi quando eu comecei a falhar: eu percebi que estava menos criativo, eu dormia pouco, vivia tendo sono no meio das reuniões. Eu queria fazer tudo e ainda assistir a todas as séries, dormir era uma loucura, e aí eu realmente pifei. Aos poucos, comecei a pensar no bem-estar, nos limites que a gente precisa se dar. Três conselhos pra evitar o burnout? Beba muita água, não fume vape e deixe o celular longe da sua mesa de cabeceira. Também tenho tentado ter uma alimentação mais saudável, conciliar momentos de ócio e diversão. Tenho falado muito sobre a importância do ócio: às vezes, meia hora ou até dez minutos de uma coisa prazerosa, seja ouvir música, ler – ou não fazer nada! – já ajudam a reestabelecer a saúde.”

Bruno Capelas é jornalista. Foi repórter e editor de tecnologia do Estadão e líder de comunicação da firma de venture capital Canary. Também escreveu o livro 'Raios e Trovões – A História do Fenômeno Castelo Rá-Tim-Bum'.